quarta-feira, 14 de março de 2012

II Feira de Economia Solidária em Cananéia, organizada pela Rede Cananéia e parceiros realiza Oficina de Arpilleras sobre a barragem de Tijuco Alto

Coletivo Educador do Lagamar
A II Feira de Economia Solidária de Cananéia aconteceu durante os dias 9 e 10 de março e contou com a presença de artesãos do município associados à Rede Cananéia e também de outras cidades do Vale do Ribeira, como Miracatu e Registro. Além das tendas com vendas de produtos artesanais, esteve presente também o grupo de catadores de recicláveis de Cananéia realizando uma conscientização sobre a coleta seletiva e o Coletivo Educador de Cananéia divulgando o dia 14 de março – Dia Mundial de Luta Contra as Barragens. Em sua tenda, o Coletivo distribuiu folders sobre a barragem da Usina Hidrelétrica (UHE) Tijuco Alto e realizou um diálogo com os visitantes sobre as consequências do possível empreendimento para a região.
Temáticas relacionadas às barragens foram trabalhadas também durante as oficinas realizadas no evento. Como parte da programação da feira, aconteceu no sábado, dia 10, a oficina de Bordados Arpilleras, técnica têxtil de bordados originária da Isla Negra, no sul do Chile, durante a Ditadura de Augusto Pinochet, na década de 1970. Os bordados proporcionavam às mulheres, esposas e mães debater entre linhas, agulhas e retalhos a opressão do regime militar que sequestrou e matou seus companheiros, filhos e familiares. Os "tapetes difamatórios," como eram chamados pelos opressores, chegaram, inclusive, a ser perseguidos.
Confeccionada com sacas de farinha as arpilleras percorrem vários países e atualmente é fruto de exposições e oficinas temáticas, por meio do trabalho da curadora Roberta Bacic e da psicóloga Esther Vital, que ministrou a oficina realizada durante a feira. Essa é a segunda vez que Esther visita o município para realizar a oficina para produção das peças.
Para retratar os mais de 20 anos de luta do Movimento dos Ameaçados por Barragens (MOAB) uma arpillera foi bordada com muitas mãos, em parceria com o Coletivo Educador de Cananéia, com a esperança de manter o Rio Ribeira de Iguape livre! Hoje, o rio Ribeira é o único rio do Estado de São Paulo sem barragens.
A peça está exposta na Associação Rede Cananéia, localizada na Rua Antonio Colasso de Souza, n.120, Carijó, Cananéia/SP.
A resistência de mais de 20 anos: UHE Tijuco Alto
Após 22 anos de luta contra a construção da barragem da UHE Tijuco Alto para alguns até parece bobagem, ou um evento muito distante, mas na verdade, resistir tanto tempo é um feito histórico. Na década de 1980 foram propostas quatro construções de Usinas Hidrelétricas no rio Ribeira de Iguape. Naquela época, a CESP, antiga Companhia de Energia de São Paulo, pleiteava três barragens. O grupo Votorantim, representado pela Companhia Brasileira de Alumínio – CBA pleiteava uma, a UHE Tijuco Alto. Até hoje o grupo Votorantim almeja esta Usina, que de acordo com o Ministério de Minas e Energia estará funcionando em 2020. A CBA precisa tanto de energia para produzir alumínio para exportação que está nessa briga há mais de 20 anos, já que a construção dessa UHE permitiria o aumento da produção de alumínio, e consequentemente o aumento dos lucros do grupo Votorantim.
É espantoso pensar que uma região toda será prejudicada para beneficiar apenas um grupo empresarial. Tão espantoso quanto, é saber que o governo considera a geração de energia como utilidade pública. Mesmo um único grupo se beneficiando. A lógica do governo é: "se esta empresa consome 10.000 kWh da rede pública e vai produzir o suficiente para suprir 1.000 kWh, a rede vai se beneficiar com estes mesmos 1.000 kWh." Isso de fato seria de utilidade pública, se a geração de energia não fosse para o aumento da produção. A população em nada se beneficia com isso, pelo contrário, sofre com os prejuízos. O rio Ribeira foi contaminado com escória de chumbo que está no fundo do rio, o risco de haver uma nova contaminação é grande. Algumas cavernas serão alagadas, algumas populações quilombolas terão suas terras alagadas, além da mudança no rio que compromete a pesca e pode deixar quase que um município inteiro desempregado. Já que os empregos que serão gerados com a construção da Usina serão de apenas 60 vagas.
De um lado da balança temos o riquíssimo grupo Votorantim aumentando seus lucros e com o título de utilidade pública para sua geração de energia; do outro lado temos a população com menor IDH do Estado, produtora de alimentos, com risco de contaminação por chumbo e podendo perder seus valiosos e pouco valorados recursos naturais e sem título de utilidade pública. É por conta do resultado dessa balança que há mais de 20 anos a população do Vale luta e continuará lutando contra as barragens no Rio Ribeira.
Terra para a vida e não para a morte! Terra para plantar e não para alagar!
Mais informações nos links:
www.mabnacional.org.br
www.terrasimbarragemnao.blogspot.com
www.ciliosdoribeira.org.br
www.arpillerasdaresistencia.wordpress.com

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